quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

- Oi. - Disse o menino em uma voz rouca, tensa para o viajante.
Ele não respondeu. Apenas abriu um sorriso - gesto esse que normalizou a temperatura fria do dia. Um dia tão cinza, tão singelo como qualquer outro dia de início de inverno. E no entanto tudo estava colorido, havia dois tons que ele não podia nunca se esquecer: o azul claro patético que lhe fazia rir e um verde escuro estranho, nada bonito mas que passava uma certa segurança.
Respingos de águas se precipitaram pelo ar, as gotas não eram um problema, elas pareciam evaporar assim que tocassem a pele quente do rubor que percorria o rosto do menino. E eles ficaram ali conversando por horas, falando sobre seus medos, se gabando de seus feitos e fazendo planos para um futuro de algumas horas próximas.
- Quanto tempo você acha que vai pode ficar por aqui? - indagou o menino ao viajante - dessa vez deixando transparecer uma preocupação em sua voz mesmo que ainda mesclada com uma certa timidez.
- Acho que mais ou menos um ano - Ele respondeu
Para a surpresa do viajante, o menino despencou seu olhar para o chão, como se um ano fosse correspondente a um minuto.
- O que foi? - Espantou-se o viajante com a expressão do menino
- Pensei que você ficaria para sempre...
E o viajante sorriu, espalhando a segurança de novo pelo local. Deixando as cores nítidas novamente, e o dia de inverno parecendo como um dia ensolarado de verão.
E assim, por um longo período de tempo o viajante e o menino trocaram experiências, conversaram sobre as mais variadas coisas. O menino antes, inseguro e inexperiente foi aprendendo como enfrentar seus medos, desafiar a si mesmo e a quem for preciso em busca de sua felicidade. O menino também conheceu lugares novos, nunca vistos antes, lugares bonitos. Em troca o menino deu ao viajante todas as emoções que ele precisava sentir, precisava saber que era real, mostrou ao viajante o mais verdadeiro dos olhares, a felicidade em um sorriso, a inocência de não saber o que é viver mas saber o que é amar.
Foi quando um dia, quando a temperatura já não era a mesma, nem as cores eram tão bonitas e tão nítidas foi que o menino descobriu que era a hora de caminhar sozinho.
- Que dia é hoje, minha senhora? - Perguntou a uma velhinha que agora ocupava o lugar onde o menino e o viajante conversavam.
- 26 de agosto - a velhinha respondeu sorrindo
E então ele soube, soube que por mais que tentasse impedir, seu amigo viajante era um viajante. E então ele soube, soube que o fato mais reconfortante de toda essa história, é saber o que ele e o viajante tinham se tornado um para o outro: uma frustração. Um assunto incabado inacabável." .
- Um ano... - Disse em voz baixa para si mesmo. Mas não havia lágrimas em seus olhos.

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